Tuesday, April 18, 2006

MIGUEL REENCONTRA JULIA

Por: Rita Maria Felix da Silva
Noite de quinta-feira chuvosa. Quarto no segundo andar daquelacasa antiga. Júlia dormia um sono inquieto, enquanto uma voz falavapara seu coração:
"Você e os outros me chamavam de Miguel. Quando estava vivo, ameivocê. Ainda amo, mas depois de hoje nunca mais te verei, porque metornei perigoso demais e é melhor que eu me exile até este mundo acabar.
Como sabe, a herança de meus pais me permitiu uma vida farta e euera fascinado pelo sobrenatural. Gastei uma fortuna para descobri tudoque podia sobre esse assunto.
Quando te encontrei, você se tornou minha âncora com o mundo real.Naquela época, me sentiria ridículo dizendo, mas hoje percebo que'nenhuma mulher jamais foi amada, como amo você'.
Podíamos ter casado e tido uma vida normal. Porém, não te escutei.Parti aquele dia, jurando que seria uma viagem rápida. Não era minhaintenção, mas desapareci. Como você deve ter sofrido!
Vaguei por terras distantes. Eu havia subornado pessoas poderosasem troca da informação que me levaram ao refúgio no Tibet dos últimosremanescentes dos humanos escravos da Atlântida (do tempo em que esta,a Lemúria e Thurseldunium governavam o mundo). Aquelas pessoasguardavam a cripta da divindade deles. Um lorde atlante. Um vampiro.Disseram-me que eu estava destinado a despertá-lo. Algo em mimhesitou, mas mergulhei nos pergaminhos que me mostraram, até queexecutei aquele terrível ritual. Dez escravos cortando as gargantasuns dos outros, enquanto eu pronunciava encantamentos que fizeramminha alma gritar...
Quando a criatura se ergueu, implorei que algum Deus pudesse meperdoar pelo que eu havia libertado sobre o mundo. Em gratidão, omonstro me transformou em vampiro também.
No tempo que se seguiu, o lorde atlante (o verdadeiro nome dele éimpronunciável para alguém que já tenha sido humano) esperou enquantorecuperava as forças e me contava os horrores que planejara para omundo. Eu retivera as memórias de minha humanidade. Escondi meuspensamentos como pude, mas ele descobriu sobre você e gargalhou deforma perversa.
Então, me arrastou de volta até aqui e tentou me obrigar a tematar. Eu resisti. Furioso, jurou que te assassinaria diante de meusolhos. O amor não pode ser como nos filmes, mas esta noite lutei porvocê e, contrariando o impossível, eu o detive e o matei. Desta vez,ninguém poderá despertá-lo.
Júlia, agora tenho que partir. Continue sua vida - minha dádivapara você - e seja feliz. Quanto a mim, neste coração vampíricoguardarei eternamente as luminosas memórias dos momentos que passei ateu lado. Adeus."
Júlia sentiu algo frio e morto beijar seus lábios e pulou da camanum sobressalto. No chão do quarto, viu um esqueleto em cujo crâniohavia caninos salientes.
A janela estava escancarada. A jovem correu até lá. A chuva haviaparado. Em seu coração, Júlia ainda pôde escutar o lamento abissal edistante de um morcego...
FIM

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